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Quando os bancos vão mudar?

Se tem um setor que evoluiu muito e ainda continua em evolução é o setor bancário. Inúmeras tecnologias e aplicativos com uma única finalidade: ser mais eficiente e ganhar mais dinheiro. Até aqui, nada de errado! Pelo contrário, eles estão certos em buscar tecnologia para reduzir seus custos.

Então, a qual mudança eu me refiro? Estou falando do DNA dos bancos: emprestar dinheiro! Isso em essência não mudou desde que o primeiro banco foi criado.

  1. O cliente deseja um empréstimo e solicita o dinheiro ao banco;
  2. O Banco faz a análise de crédito e das garantias (Bens móveis ou imóveis, Recebíveis, Avalistas);
  3. Se essas garantias cobrirem com folga o valor pleiteado, bingo! Seu empréstimo será liberado. Caso contrário, o valor solicitado será revisto ou, você não conseguirá o empréstimo.

Quero falar especificamente do PROCESSO DE ANÁLISE DE CRÉDITO e, antes de mais nada, deixar claro que sei muito bem, que se o banco não fizer esse processo ele está colocando em risco o seu negócio, do mesmo jeito que uma empresa que vende a crédito pode estar colocando em risco o seu negócio, se não fizer uma boa análise de crédito do seu cliente. Em resumo: se vendi, ou emprestei, preciso receber!

Então, o que há de errado? Não vou falar aqui que esse processo está errado, mas ele precisa mudar! 

A boa gestão financeira nos ensina a fazer uma conta simples: retorno sobre o ativo imobilizado. Vou fazer essa conta aqui e que é válida para qualquer época em qualquer lugar. Vamos a um exemplo prático: um apartamento de R$ 450.000,00 é alugado aqui em Divinópolis por um valor médio de R$ 1.300,00; isso significa dizer que o aluguel é de 0,29% do valor do imóvel, rendendo R$ 15.600,00 por ano (lembrando que toda a manutenção desse imóvel é por conta do proprietário); pois bem, se você tem uma empresa cujo lucro é de 10%, onde o seu dinheiro terá mais retorno: no apartamento ou no giro do seu negócio? 

Vamos a um outro exemplo real. Um cliente meu tem uma loja e paga um aluguel de R$ 7.000,00. Esse imóvel está a venda por R$ 1.200.000,00. Diante disso pergunto: se você fosse esse cliente e tivesse o dinheiro para comprar o imóvel da loja, você compraria? Antes da sua resposta, me permita fazer umas contas: R$ 7.000,00 de aluguel num imóvel que vale R$ 1.2000.000,00 significaria 0,58% do valor do imóvel. A sua empresa, sediada nesse imóvel gera um lucro de 8,75% com a atividade de comprar e vender mercadorias. Onde seria mais negócio aplicar os R$ 1.200.000,00: no imóvel ou no giro da empresa?

Fiz todas essas perguntas para concluir uma coisa que os bancos já sabem há muito tempo: imobilizar não é inteligente! Muitas pessoas ricas e com vários imóveis pela cidade podem ter a renda e segurança de que ninguém vai lhes tomar o seu imóvel, porém, do ponto de vista do retorno sobre o ativo imobilizado, é um péssimo negócio. Se ele fizer a conta do valor do seu patrimônio e do que recebe de aluguel, ainda sendo responsável pelas manutenções desses imóveis, vai ser um susto só!

Foi isso que os bancos fizeram: venderam seus imóveis e se tornaram inquilinos. A conta é simples: um imóvel vendido por R$ 3.000.000,00, e emprestado sob a forma de capital de giro ou cheque especial, paga o aluguel desse imóvel e ainda sobra muito. Sem contar que, no dia que esse imóvel ficar velho, ele procura um outro para alugar e se mudar. Simples assim!

Cada vez mais empresários estão fazendo essa conta, então, se todos agirem assim, como ficará a forma de emprestar dinheiro dos bancos? Arrumar avalista está difícil; buscar garantia real de imóvel vai ficar difícil por que imobilizar já era; garantia de recebíveis, até pode funcionar, mas só se for de cartão de crédito que é mais seguro; garantia do dinheiro aplicado? se já tenho o dinheiro, para que fazer um empréstimo?

Veja o exemplo de algumas imobiliárias, que já perceberam que encontrar avalistas é um grande gargalo para quem precisa alugar. Muitos negócios já deixaram de ser feitos por causa disso. Surge então, imobiliárias digitais, com uma outra forma de pensar e agir, sem a necessidade de avalistas. O Resultado disso é uma taxa de conversão em locações muito superior às das imobiliárias tradicionais, sem contar numa drástica redução do tempo de vacância do imóvel.

É… ou os bancos estudam uma inovação igual as imobiliárias fizeram ou emprestar dinheiro ficará cada dia mais difícil. A prova disso é que uma pesquisa encomendada pela FEDERAMINAS (Federação das Associações Comerciais de Minas Gerais) e conduzida por mim, revela que apenas 10% das empresas que buscaram crédito nesse período, conseguiram, sendo que, entre os 90% que não conseguiram, o principal motivo foi o cadastro/garantias insuficientes.

Resumindo: o banco não emprestou, logo não ganhou. O pequeno empresário não conseguiu o crédito, logo, está com o negócio em risco. 

E a velha máxima de que “os bancos querem emprestar para quem não precisa” continua sendo reforçada, até que um dia (e se Deus quiser esse dia vai chegar) chegue um banco para romper com tudo isso, assim como foi o UBER, o Air BNB e a Netflix.

Grande abraço, cuidem-se e bom fim de semana a todos!