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Miopia nas empresas familiares

Postado em 20 de maio de 2016

* Por Marcos Fábio Gomes Ferreira

Certo dia recebi um cliente em nossa empresa com a preocupação em blindar o seu patrimônio, afinal, foram anos de empresa e muito trabalho para construir um prédio de apartamentos e salas comerciais. Certamente, tal obra era, a sua aposentadoria sob forma de concreto.

Ao apresentar a ele a nossa metodologia de Profissionalização de Empresas Familiares, expliquei-o que a profissionalização da empresa familiar se dá em 03 importantes eixos:

  1. Empresa: garantir a sustentabilidade da operação e a perpetuidade do negócio, a partir da profissionalização da empresa e da formação dos sucessores (consanguíneos ou não);

  2. Família: alinhamento dos desejos da família empresária em relação à empresa e ao patrimônio;

  3. Patrimônio: estabelecimento de regras e normas para formação e utilização do patrimônio e construção do respaldo legal, o que na informalidade, muitos chamam de blindagem patrimonial;

O final do trabalho de profissionalização da empresa familiar (independente do seu tamanho) se dá com o acordo societário assinado e a formação dos conselhos de Administração, Família e Patrimônio.

Entretanto, mesmo após ser apresentado à nossa metodologia, o empresário insistia em querer apenas a questão da tão falada “Blindagem patrimonial”, que na prática, não é bem uma blindagem, mas sim, uma melhor organização do patrimônio a partir da formação de uma empresa que será a legítima proprietária desse patrimônio. Porém, construir somente a empresa de patrimônio e deixar de lado questões importantes como a garantia da sustentabilidade da operação, a perpetuidade do atual negócio e o alinhamento dos desejos da família empresária em relação à empresa e ao patrimônio, poderá por a perder tudo o que foi teoricamente “ blindado” na empresa de patrimônio, por uma questão muito simples: se serão os membros da família os integrantes da empresa de patrimônio, eles tem poder de fazer o que quiser com essa empresa e com o seu patrimônio. Daí a importância do conselho de patrimônio.

Um outro problema grave é que o referido empresário não via a sua atual empresa (e que gerou receita para construir o seu prédio) como o seu maior patrimônio. Por isso, a sucessão não foi pensada e nem muito menos preparada e hoje a empresa corre o risco de fechar as portas quando o patriarca se aposentar para desfrutar dos dividendos do seu prédio.

Como um dos nossos serviços é a Avaliação de Empresas, não precisei fazer muita força para ver que a empresa (que foi sugada durante anos e que hoje está em vias de paralisação), vale uns 3 ou 4 prédios. Porém, a miopia está em não ver o negócio como um patrimônio que vale dinheiro e pode ser inclusive vendido ( e bem vendido), se estiver profissionalizado e operando com boa lucratividade.

Quem disse que para um empresário se aposentar o seu negócio precisa de fechar? Quem disse que empresa não é patrimônio? Quem disse que sucessores só podem ser consanguíneos? Que blindagem é essa que aceita paralisar um negócio lucrativo pensando mais no prédio que no negócio?

Para mim, este empresário está “cercando mosquitos e deixando os elefantes passarem” bem do seu lado, à medida que já aceitou que sua empresa será fechada quando se aposentar.