Blog

A miopia societária

Postado em 29 de abril 2016

* Por Marcos Fábio Gomes Ferreira

A relação societária é, com certeza, uma das questões que mais dividem opiniões no mundo dos pequenos e médios negócios. Se por um lado, há quem não consiga pensar em um negócio sem um sócio, de outro não faltam testemunhos contrários à sociedade.

Eu, por exemplo, vi meu pai crescer em um negócio com seu sócio (tecendo mil elogios a ele), mas também, os vi se separarem, cheios de mágoas e cada um com seu caminhão de razões.

Escolher um sócio pelo critério de amizade ou de sangue; confiar de olhos fechados; pensar que uma sociedade é para sempre, independente das suas ações e reações; achar que só o seu sócio mudou e que você ainda é a mesma pessoa e; colocar os interesses pessoais acima dos empresariais, são sintomas de um grave problema: A MIOPIA SOCIETÁRIA.

Vamos imaginar uma sociedade como uma viagem coletiva onde o primeiro desafio é definir o destino. Nem sempre queremos ir para o mesmo lugar, mas, para viver em harmonia, aceitamos a viagem. Em nome da “amizade” e das “boas relações”, vamos aceitando, aceitando… até que um dia você não aguenta mais e estoura. Neste momento, você, sócio, passa a se questionar e a questionar tudo na empresa.

Culturalmente, o empreendedor brasileiro sempre entra num negócio pensando nos objetivos pessoais tais como: mais dinheiro para viver, aquisição patrimonial, viagens, dentre outros. Assim, é natural buscarmos sócios com esses mesmos objetivos pessoais. Raros entram pensando no que chamo de sonho de negócio.

Esquecemos que a mudança é uma coisa natural do ser humano e, por mais que você não queira, você vai mudar. Justamente aqui, nasce um grande problema: nem sempre a sua mudança será para o mesmo lado e nem na mesma velocidade que a de seu sócio. Neste momento, se o dilema dos objetivos pessoais versus os objetivos empresariais não estiver bem resolvido entre os sócios, adeus empresa!

Colocando uma pimenta a mais, pensem comigo: se entre sócios já é complicado, imaginem quando os cônjuges ou os filhos dos sócios começam a entrar no negócio? São outras pessoas, entrando numa viagem que ninguém parou para perguntar se está boa ou não, ou, sequer, para avaliar se os rumos ainda são os mesmos.

Em minha visão, não são os desejos pessoais de agora que devem definir a escolha do sócio e sim, os desejos e objetivos do negócio. Quando um negócio nasce com objetivos bem definidos, são os sócios que devem fazer o movimento de se adaptar a esses objetivos e não ao contrário. Porém, infelizmente, na maioria das vezes, não é isso que acontece.

Uma empresa com identidade própria não muda sua essência com o tempo (um varejo de moda sempre venderá moda), não sofre a influência do cônjuge ou da família.

Um sócio que sabe disso, se afasta da empresa quando seus objetivos mudam, podendo até abrir outra empresa, mas, nunca mudando a essência da empresa só porque ele mudou.

Bom fim de semana a todos.