Blog

De ou por propósito?

 

Outro dia, em uma reunião empresarial, escutei uma determinada pessoa falar que o importante agora é o propósito. Por conhecer essa pessoa, me admirei por essa frase ter saído da boca dela. Mais tarde, porém, pensando melhor, acredito que essa pessoa não esteja errada ao falar de atitudes com propósito, mesmo não sendo uma pessoa de princípios e valores convencionais. Foi justamente pensando na forma como essa pessoa falou sobre propósito, que resolvi escrever este texto para compartilhar com vocês.

De uns tempos para cá, a palavra propósito ganhou o mundo tanto no ambiente das pessoas físicas quanto no das pessoas jurídicas. Em minha visão, penso que houve meio que um consciente coletivo, onde as pessoas começaram a se questionar sobre qual o seu propósito de vida.

Propósito significa intenção de fazer algo, aquilo que se deseja alcançar. A palavra vem do latim “propositum” e que, segundo o dicionário de etimologia, significa “lançar-se à frente”, pois surgiu do prefixo grego pró, “diante, à frente”.

Uma coisa muito importante para se dizer, é que a palavra propósito é um substantivo, assim como a palavra qualidade. Em ambos os casos, precisaremos dos adjetivos para qualificar esses substantivos, ou seja, você pode ter um propósito bom ou ruim, assim como pode ter uma qualidade boa ou ruim.

Entendendo isso, tome cuidado, pois, não é porque você está fazendo uma coisa “de ou por propósito”, que necessariamente seja uma coisa boa. É possível você prejudicar alguém de propósito, como também, fazer o bem de propósito. Neste momento, o propósito retrata uma prática consciente da sua intenção, não assegurando se ela é boa ou ruim.

Depois de entendido isso, vamos lá: de propósito ou por propósito? Onde está a diferença? Será que seria somente na preposição, “de ou por”? A diferença pode parecer sutil, mas, em minha visão, existe um abismo entre as duas.

Quando você faz uma coisa de propósito, a própria definição anterior já explica: estou fazendo isso de uma forma intencional, planejada e premeditada, só que, sem fazer o link com os seus princípios e valores. Agora, quando você faz uma coisa por propósito, a preposição “por” lhe convida a perguntar quais são os princípios e valores que motivam essa ação. Ao usar “por propósito” a primeira pergunta que vem à minha mente é: quais são os meus princípios e valores? Por que realmente desejo fazer isso? Como essa ação pode contribuir para o coletivo?

Essas perguntas são de extrema importância, porque, as minhas ações devem ser direcionadas pelos meus princípios e valores.

Tentando resumir, de propósito é uma expressão que não é fundamentada em princípios e valores, e sim, apenas em um objetivo a cumprir, que pode ser um lucro maior, ou a derrocada de um concorrente. Por propósito, são ações fundamentadas nos princípios e valores que regem a organização ou a sua vida. Fazer uma coisa por propósito, significa fazer uma coisa alinhada com os princípios e valores ou da sua organização, ou da sua família, ou da sua comunidade, ou de qualquer meio que você faça parte.

Em maior ou menor grau, o que define se a sua ação é boa ou não, não é se ela está alinhada com o propósito da empresa, mas sim, se os princípios e valores dessa empresa contribuem para uma sociedade melhor, mais justa, mais segura e, mais sadia.

A partir disso, podemos até nos perguntar: será que as tragédias que vimos acontecer no Brasil nos últimos anos, tendo grandes empresas como protagonistas, foram “de ou por” propósito? Fiz esse dever de casa e entrei no site dessas empresas. Lá, a declaração de princípios e valores, pelo menos no que está escrito, são princípios e valores que se praticados, irão contribuir para essa sociedade melhor, mais justa, mais segura e, mais sadia. Entretanto, suas ações, ao que nos parece até agora, foram desalinhadas com o que elas pregam em seus sites. Seria então essas ações fruto de uma decisão “de propósito”? Será que os funcionários ou os prestadores de serviços envolvidos não poderiam questionar algumas decisões ou até se negarem a fazer alguma coisa levando em conta o propósito que ora se apresentava? Afinal de contas não é para isso que a declaração de propósito de uma empresa deve servir? Para alinhar todos e empoderar seus funcionários a empreenderem ações alinhadas com esse propósito, ainda que seja ir contra uma decisão de um diretor, afinal de contas, esse funcionário estaria com sua razão lastreada por um propósito maior.

Desculpe se vou chocá-los, mas, assim como a igreja tem o seu propósito lastreado nos seus princípios e valores, o PCC também tem, o traficante a mesma coisa, os guerrilheiros, as milícias e os terroristas também. Cada um fazendo aquilo que acredita e seguindo fielmente o seu propósito.

Fico muito feliz com a sociedade discutindo tanto essa palavra, mas, infelizmente, a situação colocada acima ainda permanece e permanecerá: a palavra propósito sozinha não significa nada, pois, ainda que você faça as coisas “por propósito”, será sempre os seus princípios e valores que darão norte para elas.

Bom fim de semana a todos e lembre-se, se você perdeu alguns de meus textos, acesse www.professormarcosfabio.com.br e vá na aba “coluna”. Lá você encontrará tudo que escrevo. Boa leitura e bom fim de semana a todos!